Cartilha Davi Meu amiguinho, de Eunice Alves

em 7/06/2012

   Irei repetir o que sempre escrevo aqui: NÃO posto cartilhas antigas para que ninguém use ou alfabetize com elas! São material de observação e análise, são artigos de museu, históricos e fazem parte da história de vida de cada um de nós e mais que isso, da história do ensino da leitura e da escrita em nosso país.


   Ainda não consegui a cartilha Davi Meu amiguinho completa e estou procurando há muitos anos. Posto então, apenas as páginas que encontrei em diversos sites e blogs. Assim que eu conseguir completa postarei completa, porque quem a possui não vende e não se vê nenhum exemplar a venda, online, infelizmente. (Elizabeth)



   "O método de alfabetização sintético, indicado no contexto do manual do mestre, trazia noções de como trabalhar a metodologia. A capa da cartilha mostra um menino rural, ligado aos valores do campo e da natureza, valorizando a família e meio onde estava inserido. A proposta da autora da cartilha era estimular as crianças do meio rural  a descobrirem os valores do local onde viviam. 
   A cartilha foi distribuída gratuitamente, no Município de Guaramirim, na época em que se encerrava um capítulo na história da República Federativa do Brasil, o fim do Regime Militar. A cartilha era de autoria de Eunice Alves e Marcia de Almeida. (Conheça o autor do texto acima acessando Valeitapocu.)
   


As páginas abaixo pertencem à Galeria de Mônica Estela Mattos.


Este é o Davi:




E este é Lula, o papagaio amigo:














 Esta é a vovó de Davi:


 Mas... Quem deu o Lula ao Davi? Na época este era um grande questionamento para as crianças e quem estudou pela cartilha até hoje se lembra com tremendo carinho de Lula:


 






Eis aqui o vovô! Foi ele quem deu o Lula ao Davi!




 Eis a vovó!

 


E este o papai do Davi, O Levi:



E a mamãe do Davi, a Lila:



Este é o cãozinho Tupi:

 

E este é Mimi:



A Lia:



 - Observe como as palavras são selecionadas de acordo com os sons já apresentados e portanto, conhecido das crianças. O texto perde muito em significado, em sentido e é exatamente aí que ao invés de a palavra servir ao texto, o texto serve à palavra e isto o designifica, deixa ele de ser um texto.


Algumas "Lições":

 














A capa traseira da cartilha:


Dei uma 'clareada' na folha de rosto que estava muito amarela:
Crítica:

Texto de: Maylta Brandão dos Anjos, Mestre pela UFRRJ/CPDA.


   Este texto pretende apenas chamar a atenção sobre a presença ativa dos valores e regras de conduta no material didático brasileiro do ensino elementar. A filiação a uma linha ideológica, aqui, parece inevitável. O que já tem sido apontado pelos mais diferentes autores que afirmam não existir neutralidade na educação e, conseqüentemente, no ensino, como também nos conteúdos por ele difundidos. Apesar do saber procurar se desprender da ideologia, ficará sempre o molde, o código de interpretação que não permitirá um ensino sem amarras e vinculações (Capalbo, 1978: 41). Uma perspectiva desse tipo pode se beneficiar do entendimento de como se processa a formação da cidadania no contexto educacional.

   Como salienta Bendix, nas sociedades ocidentais os atributos da educação elementar têm se convertido em elemento decisivo da conformação da cidadania. Duas seriam as principais visões sobre a relação educação/cidadania. Num primeiro momento, predominou a dos conservadores que temiam a indocilidade do povo e pensavam que podiam domesticá-lo recorrendo aos princípios fundamentais da religião e da lealdade ao governo e à Pátria. Depois, começou a ter peso o argumento dos liberais, de acordo com o qual o Estado Nacional seria o responsável pela formação da cidadania nos órgãos educacionais (Bendix, 1964).

   À medida que os grandes núcleos populacionais cada vez mais foram se privando da educação elementar, o acesso aos meios educativos também foi se convertendo em um pré-requisito sem o qual nenhum dos direitos restantes reconhecidos pela lei podia vigorar plenamente (Bendix, 1964). Paulo Freire, nesse mesmo sentido, afirma "que não é possível negar - a não ser por astúcia ou angelitude - o caráter político da educação. Daí que os problemas básicos da pedagogia não sejam estritamente pedagógicos, mas políticos e ideológicos" (Freire, 1978: 64). Segundo Gadotti, "é ilusão da pedagogia tradicional sustentar que a educação pode ser desvinculada do poder da ideologia, que é possível uma educação neutra, que só a educação neutra ou desinteressada é a ‘verdadeira educação’". Daí o consenso de que a educação tem por base uma concepção ampla sobre o homem e a sociedade, decorrendo da sua difusão obrigações de caráter social que lhe retiram a possibilidade da neutralidade (Gadotti, 1978: 11).

   Tornam-se particularmente emblemáticos os textos das cartilhas brasileiras que, lidos por crianças e mesmo por adultos, transmitem mensagens carregadas de valores e sugerem comportamentos e, principalmente, atitudes, como nos mostra a psicologia social, predispondo os leitores a um modo de pensar e proceder conformativo de certo tipo de indivíduo. O exercício seguinte consiste na apresentação da discursividade desse material educativo, a partir de seis temas: família, meio ambiente, cidadania, religião, escola e trabalho.

Família

A família é apresentada nas cartilhas das décadas de 60-70 como um mundo à parte em si e para si, desvinculada da realidade social, econômica e política em que está inserida. Os seus autores tentam mostrar na família um lugar de paz, segurança e felicidade, onde não há conflitos individuais. Já os textos da década de 80 fazem indagações sobre a estrutura socioeconômico da família, inserem-na em sua comunidade e operam com uma linguagem próxima à realidade dos alfabetizandos.

Olhem a família de Davi / Papai e mamãe / Vovô e vovó / Edu e Amélia / Todos felizes / Todos alegres / Todos contentes. (A Cartilha de David, 1968).

Alves, Eunice. Davi, meu amiguinho. Rio de Janeiro, Bloch Educação, l978.







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