Se a Páscoa nos ensina algo, com certeza é a recomeçar todos os dias, tentando ser melhor que no dia anterior, não somente para com os outros, para consigo mesmo. Porque o triste não é tentar melhorar, é perceber com que naturalidade as pessoas "pioram" e que o fazem com alegria. Quanto pior, melhor, parece ser o lema da atualidade. Valores esquecidos, seguimos adiante, seguros de que o ideal que seguimos justifica qualquer atrocidade cometida aos outros, aos semelhantes. E seguimos de cabeça erguida, tão certos estamos de que toda maldade é perdoada se nosso objetivo for alcançado. Não é bem assim. O maldoso se une de tal modo à maldade cometida, que dia a dia se tornam um. E chega mesmo a um ponto em que o discurso de bondade e fraternidade está tão distante da mesquinha e malévola prática diária, que bocas se abrem e fecham em sermões apregoados e nunca vividos... Por isso aquele que tem como meta praticar sempre o bem é tão feliz. Porque felicidade que depende de atos de crueldade não traz realização, porque o agente se perdeu no percurso, perdeu o melhor de si, ou, diria, perdeu a si mesmo. A prática não mente. Palavras sim, mas a prática não, jamais. É dela, mais que de nossas palavras, que vem a imagem exata do que somos, ou fomos, um dia. Ou talvez nunca mais voltemos a ser, tão embuídos estamos da "sagrada missão" de ofender, magoar, ferir, ou revidar até o que talvez nem nos tenha sido intencionalmente direcionado.
Chega mesmo um momento em que é preciso que venha a Páscoa interior, aquela que adentra o coração feito luz pela vidraça. Tempo de refletir sobre o que fomos, um dia, e no que estamos nos tornando, dia a dia. Tempo de mudar, tempo de recomeçar, tempo de tentar fazer melhor, de ser melhor. Não para exibir, como em campanha eleitoreira: "Vejam como sou bom ou boa!" mas de gostar de ser bom simplesmente porque desta forma e somente deste modo, se pode obter a tão sonhada paz interior.
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